Metáforas Visuais e Multimodais

Na postagem de hoje iremos falar um pouco sobre as metáforas visuais descritas no trabalho de Forceville (2016). As metáforas tiveram muito de sua fama atribuída a Aristóteles, que afirmava que elas eram essenciais tanto para a retórica quando para a poesia. Para ele, uma metáfora "não poderia ser adquirida de outra pessoa, e é uma marca de genialidade" (1987, p.32). O interesse por metáforas se renovou em 1980 com a publicação da monografia de Lakoff e Johnson, intitulada "Metáforas pelas quais vivemos" em que as definiam como "compreender e experienciar um tipo de coisa nos termos de outra" (1980, p.5). Os autores afirmaram que seres humanos pensam metaforicamente, e sistematicamente metaforizam fenômenos abstratos e complexos em termos de fenômenos concretos e corpóreos (Forceville, 2016). Lakoff e Johnson (1980) também conceberam a Teoria da Metáfora Conceitual (TMC). Dois ramos de pesquisas derivadas da TMC exploraram manifestações de pensamento metafórico não-verbais e não puramente verbais. Um desses ramos se relaciona ao papel dos gestos na comunicação de metáforas na língua falada. O outro está ligado a metáforas serem constituídas de, ou envolverem informações visuais. É neste ramo que as ideias de Forceville são desenvolvidas. 

Metáforas e suas características

Uma metáfora é composta de duas partes. A primeira, literal, pode ser chamada de conteúdo, tópico ou objeto primário, enquanto a segunda pode ser identificada como veículo ou objeto secundário. Atualmente os termos utilizados são domínio alvo e domínio fonte. Na frase "amor é fogo", por exemplo, "amor" é o domínio alvo e "fogo" é o domínio fonte. Apesar desses termos terem sido criados para caracterizar metáforas faladas e escritas eles também podem ser usados em metáforas visuais e multimodais. A seguir apresentamos os tipos de metáfora propostos por Forceville (1996).

Tipos de metáforas - Forceville (1996)

1. Metáfora Contextual

O princípio por trás da metáfora contextual é o de que um objeto visual se torna o alvo de uma metáfora por ser representado em um contexto visual de forma que o objeto é apresentado como outra coisa, o alvo. O contexto visual é a fonte nesse tipo de metáfora. O exemplo a seguir, na Figura 1, mostra uma metáfora contextual. Nesta propaganda podemos observar um notebook pendurado em um cabide, o que na vida real não é algo que faça sentido. Porém, o contexto visual oferecido nos permite inferir que o notebook em questão, que possui uma estampa floral e colorida, ao ser comparado com uma peça de roupa, que normalmente colocamos em cabides, pode ser entendido como uma nova peça estilosa para o seu guarda-roupa. 

Figura 1 - Exemplo de metáfora contextual


Fonte: <https://www.adsoftheworld.com/campaigns/skin-44ac6c19-bca7-4e72-bd91-32f1cfd7d949>

2. Metáfora Híbrida

Neste tipo de metáfora, o alvo e a fonte estão fisicamente integrados. É possível reconhecer ambos, mas não desconectá-los. Um exemplo dessa metáfora é a Figura 2, na qual temos dois elementos visuais, uma casquinha de sorvete e o planeta Terra fundidos para produzir uma metáfora sobre o aquecimento global e derretimento de geleiras.

Figura 2 - Exemplo de metáfora híbrida


Fonte: <https://www.crehana.com/blog/estilo-vida/metaforas-visuales/>

3. Metáfora Símile

Nesse tipo de metáfora o alvo é comparado diretamente com a fonte, que se assemelha a ele de alguma forma. Essa comparação pode ser feita colocando um ao lado do outro, apresentando-os da mesma forma ou posição, representando-os com as mesmas cores, iluminação, ou uma combinação disso tudo. Na Figura 3 podemos ver uma embalagem de um creme da marca Nivea. A embalagem azul escuro semiaberta com fundo de cor semelhante contrasta com o branco do creme, remetendo ao formato de uma lua minguante. Essa metáfora comunica ao cliente que o creme em questão é recomendado para o uso noturno.

Figura 3 - Exemplo de metáfora símile

Fonte: <https://www.marketing91.com/creative-advertising/>

4. Metáfora Verbo-pictórica

Quando a metáfora é construída combinando texto verbal e imagem ela é considerada verbo-pictórica. Nela são necessários ambos modos semióticos para a comunicação efetiva do sentido desejado. Na Figura 4 temos uma metáfora utilizada para incentivar o distanciamento social no auge do covid-19. Podemos observar as ilustrações de um secador de cabelo e uma banheira com a frase "Mantenha distância" separando as duas. Sabemos que utilizar eletrodomésticos próximo a água é perigoso e pode ser mortal com o risco de choques. A segunda frase da campanha "Pare o caos. Ajude a controlar a covid-19." completa o sentido da metáfora que busca comunicar que o perigo de se aproximar de pessoas em meio a uma pandemia é o mesmo de aproximar um secador ligado de uma banheira cheia de água.

Figura 4 - Exemplo de metáfora verbo-pictórica

Fonte: <https://www.adsoftheworld.com/campaigns/keep-your-distance-00cc0ef2-6cc9-409d-9f9a-be768a416e4c>


Conhecer mais sobre metáforas, especialmente as visuais, é essencial para a comunicação humana. Faz parte de nossa natureza utilizar formas criativas, inusitadas e implícitas para produzir uma mensagem. O estudo de Forceville tem impacto contínuo no estudo da multimodalidade visto que ele deu visibilidade ao papel das imagens e de recursos visuais na produção de metáforas.


Referências:

ARISTOTLE. Poetics. Tradução: R. Janko. Indianapolis: [s. n.], 1987.


FORCEVILLE, Charles. 10. Pictorial and Multimodal Metaphor. In: KLUG, Nina-Maria; STÖCKL, Hartmut (ed.). Handbuch Sprache im multimodalen Kontext. Berlin, Boston: De Gruyter, 2016. ISBN 9783110296099. Disponível em: https://doi.org/10.1515/9783110296099-011. Acesso em: 31 maio 2025.


LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metaphors We Live By. Chicago: [s. n.], 1980.


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