A Teoria dos Atos de Fala de J.L. Austin

 O surgimento da Teoria dos Atos de Fala

Durante o ano de 1955, John Langshaw Austin realizou uma série de palestras em Harvard que foram reunidas na forma de um livro entitulado How to do things with words anos depois, em 1962. Austin considerava a linguagem uma forma de ação, ele enxergou seu caráter performativo já que com ela podemos pedir, ordenar, prometer, eleger, que são verbos performativos (Castim, 2017). Em sua obra, que tornou-se referência nos estudos da pragmática, Austin (1962) afirmou que o ato de dizer algo é uma ação, e para explicar este fenômeno detalhou a fala em três atos que ocorrem simultaneamente: ato locucionário, ato ilocucionário e ato perlocucionário.

Ato Locucionário

O primeiro ato de fala explicitado por Austin (1962) foi o ato locucionário. Segundo ele, este ato se caracteriza pela produção de um enunciado por meio de sons e sua organização. 

Ato Ilocucionário

O ato ilocucionário por sua vez é a realizar uma ação através de um enunciado. Através de um enunciado um locutor pode pedir, ordenar, prometer, eleger, julgar, nomear, etc. 

Ato Perlocucionário

Por fim, o ato perlocucionário seria o efeito causado ao outro, que pode ser influenciar, constranger, persuadir a fazer alguma coisa, etc.

Exemplos:

1. Charge sobre educação


Fonte: Ivan Cabral (2011)

Na charge acima a professora pede que João conjugue o verbo merendar. O ato locucionário é sua própria fala (João, conjugue o verbo merendar!). Já o ato ilocucionário se caracteriza pelo pedido feito pela professora ao seu aluno. A reação do aluno, respondendo que não pode fazer o que lhe foi pedido pois sua mãe ensinou que mentir é pecado, constitui o ato perlocucionário

2. Tirinha da Turma da Mônica

Fonte: Maurício de Sousa Produções 

Nesta tirinha, Mônica está ensinando truques ao seu cachorro, Monicão. Ela lhe dá um comando: "Finge de morto, Monicão!", que é o ato locucionário da tirinha. A ordem dada por Mônica constitui o ato ilocucionário. A reação de Monicão, e em seguida de Magali, constituem o ato perlocucionário, já que ambos obedeceram o comando em troca de biscoitos. 

3. Charge sobre o ano de 2020 e a pandemia

Fonte: Cazo (2020)

Como terceiro exemplo temos uma charge do artista Cazo que reflete sobre os momentos vividos durante a pandemia da COVID-19. O personagem representado na imagem está em ligação com o PROCON (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) perguntando se ainda dá tempo devolver o ano de 2020 (ato locucionário). Ele reclama do "produto adquirido" e essa reclamação define o ato ilocucionário. Nesse exemplo, não temos uma resposta direta de quem está do outro lado do telefone, infere-se que a resposta ou reação (ato perlocucionário) será uma negativa, já que não é possível devolver um ano, provocando o humor da charge.


Referências:

AUSTIN, John Langshaw. How to do things with words. London: Oxford University Press, 1962. 166 p.

CASTIM, Fernando. JOHN AUSTIN E OS ATOS DE FALA. Revista Ágora Filosófica, v. 1, n. 1, p. 84-95, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.25247/p1982-999x.2017.v1n1.p84-95. Acesso em: 28 mar. 2025.


OTTONI, Paulo. John Langshaw Austin e a Visão Performativa da Linguagem. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, v. 18, n. 1, p. 117-143, 2002. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0102-44502002000100005. Acesso em: 28 mar. 2025.


SILVA, Leosmar Aparecido da. RELAÇÕES ENTRE A TEORIA DOS ATOS DE FALA E QUADRINHOS HUMORÍSTICOS. Revista Temporis[ação], v. 9, n. 1, p. 114-127, 2017. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/temporisacao/article/view/5994.



Comentários

  1. Humm Gostei. Voce fez analise das tirinha procurando explicar as funções dos atos de fala dentro dos enunciados. O problema é voce fazer referência sem escrever os nomes dos pesquisadores dentro do texto. Parabéns pelas escolhas dos designer de seu blog. Transmite um leitura calma...

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