A Teoria da Recepção de Stuart Hall
Nesta postagem, com base no texto de Teel (2017), iremos conhecer um pouco sobre a Teoria da Recepção de Stuart Hall. A partir da Teoria da Recepção de Hans-Robert Juass, Hall escreveu uma nova versão, conhecida como a Teoria de Codificação e Decodificação de Hall. Ao contrário de Juass, Hall não considerava a linguagem e a comunicação algo simples. Afinal, uma mensagem pode ser criada e enviada, mas o receptor não necessariamente aceitará e compreenderá tal mensagem. Questões como conhecimento prévio e interesses compartilhados interferem diretamente neste processo, já que nos casos em que eles se alinham com os do autor, a recepção vai ser muito mais próxima do que o pretendido por ele.
Por exemplo, o meme representado na figura 1 faz referência a uma série que foi popular no início dos anos 2010, chamada Gossip Girl. A imagem traz as duas protagonistas e um diálogo curto. Serena diz para Blair: “preciso fazer xixi”, ao que Blair responde: “vai fazer xixi, garota”.
Figura 1 - Meme “Go Piss Girl”
Fonte: <https://embedded.substack.com/p/the-defining-meme-of-the-pandemic>
Apesar do diálogo ter sentido completo, há camadas que só serão reconhecidas por aqueles que conhecem um pouco sobre a série. A resposta de Blair (go piss girl) utiliza o título da série, e sua tipografia, para formar a nova frase com as letras reorganizadas. A mensagem codificada pelo autor possui a intenção de causar o humor para quem conhece a série (conhecimento prévio) e possui interesse compartilhado com ele. Hall afirma que “linguagem e mídia não refletem o real, mas simplesmente constroem algo parecido a nosso favor”. Com sua teoria, é possível que o público, cuja participação no processo comunicativo era desvalorizada por outros teóricos, tenha papel fundamental na comunicação. Com a teoria de Hall, o público é capaz de mudar o significado de uma mensagem para que ela se encaixe em seu contexto social (Teel, 2017). Assim, ele incluiu dois processos: codificação e decodificação, e afirmou que a mensagem codificada pelo autor não é necessariamente a mensagem que será decodificada pelo público.
Mas o que seria codificar e decodificar?
Codificar é o ato de enviar uma mensagem para que outra pessoa possa compreendê-la. São necessários símbolos e regras compartilhadas, e é importante que o autor pense em seu público e em como ele interpretará a mensagem (Teel, 2017). O autor pode usar a linguagem verbal, sinais, linguagem corporal, ou o que ele acredita que o público entenderá (Hall, 1973). Hall acredita que mesmo que a pessoa que está enviando a mensagem acredite estar sendo clara, a mensagem não é fixa, e sim criada junto com a mensagem. Podem haver distorções e mudanças quando a mensagem é recebida. Um exemplo disso seria uma pessoa que possui um tom de voz mais elevado, e comumente é confundida com alguém que fala gritando. Se alguém que nunca a viu e nunca falou com ela pessoalmente chega em sua casa pela primeira vez e ouve uma conversa aleatória, é possível que esse alguém ache que ela está gritando com a família, discutindo talvez, quando na verdade é apenas seu jeito normal. A decodificação, para Hall, é a parte mais importante do processo comunicativo. O público adiciona significados e recria a mensagem (Hall, 1973). Decodificar tem a ver com receber, absorver e compreender a informação que está sendo passada. Para o processo comunicativo ser considerado bem sucedido, a mensagem recebida, ou decodificada, tem que ser a mesma mensagem que foi codificada. Teel (2017) exemplifica com a seguinte interação: uma mãe pedindo ao filho que faça a lição de casa e lave a louça, ao que a criança concorda e responde que está tudo feito. O resultado desse processo poderia ser diferente, visto que fatores como idade, gênero, experiências, conhecimentos prévios e situações econômicas, podem alterar o significado entendido pelo decodificador (Hall, 1973).
Estágios da comunicação, segundo Hall
Stuart Hall propõe a existência de quatro estágios no processo de comunicação. O primeiro deles é a produção, durante a qual se faz necessário pensar e refletir sobre a forma que a mensagem será entendida pelo público alvo. O segundo estágio é o da circulação, que pode ser comparada com o envio da mensagem. O envio e a entrega de uma mensagem podem influenciar a ação e resposta do público, a circulação é parcialmente responsável pela reação do público. O terceiro estágio é o estágio do uso, já que para uma mensagem ser comunicada é necessário que aquele que a envia inclua conteúdo ou signos que levem o público a perceber que ele ou ela devem fazer algo com a mensagem que lhes foi enviada. Daí a importância de enviar mensagens compreensíveis e significativas que fazem o público pensar. O quarto e último estágio é o da reprodução, que acontece diretamente após o público interpretar e responder ou reagir à mensagem. No caso de propagandas, por exemplo, é possível que a mensagem convença as pessoas a consumirem um produto.
Posições do decodificador
O decodificador de uma mensagem pode assumir três posições diferentes na sua recepção. Na leitura dominante a mensagem produzida pelo autor é comunicada de forma bem sucedida, e o leitor possui o “pensamento dominante”, aceitando e compreendendo a mensagem pretendida. Em geral não há mal entendidos já que o leitor compartilha das crenças e ideologias do produtor da mensagem. Na figura 2 vemos um exemplo de leitura dominante, em que o público decodifica a mensagem, uma mensagem promocional da marca de tintas Suvinil no X (antigo Twitter), se identifica com os diversos tons de “verde lésbico” mostrados na imagem, e comenta sobre querer utilizar as tintas em sua casa futuramente.
Figura 2 - Exemplo de leitura dominante
A segunda é a leitura negociada, em que o público aceita mas também rejeita a mensagem. Nesse caso o público compreende o texto mas não discorda nem concorda totalmente com ele, entendendo a mensagem pretendida mas compartilhando também suas opiniões parcialmente discordantes. Temos um exemplo dessa leitura na figura 3, na qual observamos o público discordar parcialmente da mensagem veiculada. A pessoa leitora comenta sobre gostar do vídeo mas também discorda de algo que nele foi dito, visto que ela achou um comentário ao final do vídeo desrespeitoso para nordestinos.
Figura 3 - Exemplo de leitura negociada
Fonte: acervo pessoal
Por fim temos a leitura de oposição, em que o público compreende o texto como pretendido pelo codificador, mas rejeita completamente sua mensagem. Ao invés de concordar, como na leitura dominante, o público alterará e adicionará seu próprio sentido a ela. Esse tipo de leitura ocorre quando o público não se identifica com a mensagem, seja por não entender, por ser uma opinião controversa, ou por não refletir suas visões de sociedade. O exemplo visto na figura 4 representa uma leitura de oposição. A postagem traz um tema polêmico, relacionado a barriga de aluguel e adoção feita por pessoas LGBTQIA+, e um leitor utilizou seu espaço para discordar da opinião mostrando a sua própria.
Figura 4 - Exemplo de leitura de oposição
Fonte: acervo pessoal
Conhecendo a Teoria de Recepção de Hall podemos compreender melhor como a dualidade da comunicação, com codificação e decodificação, vai além da produção da mensagem. A forma como ela é recebida altera seu significado visto que o decodificador pode concordar, discordar ou ficar dividido ao receber a mensagem. Com isso, podemos buscar nos comunicar com mais clareza, procurando evitar mal entendidos, por exemplo.
Referências:
Hall, Stuart. Encoding and Decoding in the Television Discourse. Centre for Cultural Studies, University of Birmingham, 1973.
TEEL, Alex. The Application of Stuart Hall’s Audience Reception Theory to Help Us Understand #WhichLivesMatter? 3 maio 2017. Disponível em: https://medium.com/@ateel/the-application-of-stuart-halls-audience-reception-theory-to-help-us-understand-whichlivesmatter-3d4e9e10dae5. Acesso em: 15 maio 2025.
Que postagem linda! Parabéns
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